O profissional de Educação Física também é um profissional de saúde.
É consenso na literatura que a atividade física em níveis recomendados é efetiva na prevenção primária e secundária de uma série de doenças crônicas, bem como da morte prematura.
A atividade física pode ser considerada o melhor investimento em saúde pública, em virtude da economia direta que se pode alcançar com o combate ao sedentarismo. A inatividade física e o comportamento sedentário não só estão relacionados com doenças e morte, como também comprometem a qualidade de vida da população, além do alto custo à sociedade para os indivíduos economicamente ativos, culminando em impacto econômico ao sistema público. Com isso observa-se que o aumento do nível de atividade física da população contribui indiretamente para ganhos em outros setores vitais para o desenvolvimento humano e o progresso econômico, com grande impacto na redução dos custos com tratamentos hospitalares, uma das razões de seus consideráveis benefícios sociais.
A atividade física regular está associada com inúmeros benefícios à saúde física e mental em homens e mulheres, podendo inclusive retardar todas as causas de mortalidade, quando um indivíduo melhora sua atividade física e muda seu estilo de vida sedentário.
Baixos níveis de atividade física são considerados os principais fatores de risco global para a mortalidade por diversas causas, sendo responsáveis por aproximadamente 3,2 milhões de mortes no mundo e 32,1 milhões de casos de incapacidade física, além das doenças não transmissíveis.
Uma diminuição no nível de atividade física aumenta o risco de desenvolver doenças cardiovasculares (DCV), acidente vascular encefálico, diabetes tipo 2 e algumas formas de câncer (por exemplo, de cólon e de mama), ao passo que a pressão arterial apresenta menores valores em níveis elevados de atividade física, conjuntamente com a melhora no perfil lipídico (como as lipoproteínas, o HDLc, a LDLc, triacilgliceróis, proteína C-reativa), na sensibilidade à insulina e consequentemente no controle do peso.
Além disso, estudos demonstram que o exercício físico preserva a massa óssea e reduz o risco de queda, principalmente em adultos mais velhos, além de prevenção e melhoria de transtornos depressivos e ansiedade. Assim, um estilo de vida fisicamente ativo aumenta a disposição para atividades diárias, sensação de bem-estar, qualidade de vida e função cognitiva, além de estar associado ao menor risco de declínio cognitivo e demência.
As recomendações atuais de atividade física para a saúde sugerem que todas as pessoas devem adotar um estilo de vida mais ativo. Recomenda-se que os adultos dediquem pelo menos 30 minutos de atividade regular moderada ou vigorosa em quase toda a semana e, para atender as recomendações, emprega-se o conceito de “acumulação”, ou seja, para atender a dose suficiente de atividade física, as pessoas devem realizar atividades em sessões curtas, somando o tempo gasto em cada uma delas. Por exemplo, se o objetivo é satisfazer 30 minutos de atividades físicas por dia, esta poderá ser contemplada através da realização de três períodos de 10 minutos cada, ao longo do dia.
Estudos apontam uma relação dose-resposta entre níveis de atividade física e resposta positiva na saúde, de tal modo que maior benefício está associado a maior quantidade de atividade física. No entanto, a prescrição do exercício é melhor ajustada por um profissional de Educação Física pela considerável variabilidade individual em resposta a um determinado programa de exercício.
A prescrição adequada de atividade física contempla as variáveis: tipo de exercício, duração, intensidade e frequência semanal, com possibilidade de inúmeras combinações em um programa regular de exercícios físicos que com pelo menos três componentes: aeróbio, sobrecarga muscular e flexibilidade, variando a ênfase em cada um de acordo com a condição clínica e os objetivos de cada indivíduo. No entanto, um programa de exercícios que não inclua todos os componentes de exercício ou não atinge as recomendações (intensidade, duração e frequência) normalmente não alcança benefícios consideráveis, principalmente em pessoas que habitualmente vivem inativas.
Existe forte relação dose-resposta entre o nível de aptidão física e seu efeito protetor para a saúde, com redução do risco de contrair doença na medida em que a atividade física aumenta. Benefícios significativos para a saúde já podem ser obtidos com atividades de intensidade relativamente baixa, comuns no cotidiano, como andar, subir escadas, pedalar e dançar. Sendo assim, não somente os programas formais de exercícios físicos, mas também atividades informais que incrementem a atividade física são interessantes. Ambas as possibilidades devem ser consideradas, na medida em que a sua soma permite mais facilmente atingir determinada quantidade de atividade física.
As características da população a ser avaliada, os objetivos da atividade física e a disponibilidade de infraestrutura e de pessoal qualificado influenciam na complexidade da avaliação que pode ser uma simples aplicação de questionários ou mesmo exames médicos e funcionais sofisticados. Indivíduos sintomáticos e/ou com importantes fatores de risco para doenças cardiovasculares, metabólicas, pulmonares e do sistema locomotor, que podem ser agravadas pela atividade física, exigem avaliação médica especializada, para definição objetiva de eventuais restrições e a prescrição correta de exercícios pelo profissional de Educação Física. Os principais objetivos do exame clínico são: identificação de doenças pregressas e atuais, avaliação do estado nutricional, uso de medicamentos, limitações musculoesqueléticas e nível atual de atividade física.
A avaliação pré-participação ideal deve incluir, além dos testes de resistência cardiovascular, testes de força e resistência muscular, de flexibilidade, análise postural e determinação da composição corporal. Dessa forma, todo indivíduo deve ser submetido, obrigatoriamente, a um exame clínico que permita a detecção de fatores de risco, sinais e sintomas sugestivos de doenças cardiovasculares, musculoesqueléticas, respiratórias, metabólicas e outras. Embora uma avaliação médica pré-participação seja fundamental, a sua impossibilidade não deve impedir a adoção de um estilo de vida ativo.
Não perca tempo, pratique atividade física!!!
Meirele Rodrigues Inácio da Silva, 32 anos, graduada em Educação Física, Mestre e Doutora em Ciência da Nutrição - Saúde Coletiva, pela UFV, é Professora nos Cursos de Educação Física da FDV e UFV.