Banalização e mau uso de tecnologias

Historicamente, a fome, a pobreza e a falta de acesso à saúde no mundo são reduzidas na medida em que o acesso a produtos tecnológicos aumenta. Por outro lado, muita gente não entende bem as tecnologias que usa, ou não usa da melhor forma para o seu bem estar, sua saúde (física e mental) e da sociedade. Os porquês e origens das tecnologias são de fato complexos, mas a falta de uma educação científica razoável impede muitas pessoas de aproveitar melhor os recursos disponíveis. E isto nem sempre depende de um conhecimento detalhado ou profundo, mas bem básico, nível de ensino fundamental mesmo. Na verdade, isso está muito além da formalidade das instituições de ensino. Deveríamos debater com nossa família, amigos e colegas de trabalho. Todos nós estamos aprendendo a viver em um mundo de transformações maiores e mais rápidas do que tudo que já foi visto por outras gerações.

  Na maioria esmagadora das vezes, usamos produtos tecnológicos de forma passiva e inconsciente, sem pensar muito na melhor forma de usar. Será que não é interessante saber que deixar a bateria de um celular ou computador descarregar muito diminui sua vida útil? E que ela não vicia coisa nenhuma? Ou será que não vale a pena saber que existem riscos à saúde associados ao contato direto com as baterias estragadas de celulares e notebooks? Muita gente fica preocupada com o suposto risco associado à radiação invisível emitida e recebida pelos celulares e antenas, principalmente o famigerado 5G, sem saber que não há nenhuma evidência em favor disso. E os males comprovados da radiação visível (e ultravioleta) das telas que afetam os olhos e a pele nocivamente merecem atenção, mas não são tão considerados. A banalização do uso de tecnologias nos leva a negligenciar impactos reais devido à nossa tradicional má formação em ciência básica.

  Vamos recapitular alguns casos que estão aí desde muitas gerações. Tecnologias relativamente comuns como dos fornos micro-ondas ainda carregam muitos mitos. Dizem por aí que ondas da radiação são sempre muito perigosas. Mal sabem que a quantidade radiação ionizante emitida por uma banana é bem maior do que muita gente imagina. E não há problema nisso! Todos os materiais emitem algum tipo de radiação, inclusive você! E é muito raro encontrar (em quantidade relevante) ondas ionizantes no cotidiano que nos façam mal. Vale ressaltar que você não irá morrer por causa das bananas. Não se preocupe! E outra coisa importante, fornos de micro-ondas não oferecem o “risco mortal” que muitos dizem, considerando que ele está sendo usado como recomendam os manuais e que você está do lado de fora do forno, claro. Preocupar com a radiação solar pouca gente quer. E o câncer de pele é o tipo mais comum no Brasil! O Sol é uma fonte de radiação que pode ser aproveitada de forma segura, mas nem tanto se cuidados não forem tomados. Use guarda-sol e protetor solar. Também use óculos escuros com filtro polarizador, independente da sua beleza ou da falta dela.

  Entre os problemas do uso de tecnologias atuais sem um mínimo de conhecimento está o crescimento do seu mau uso (intencional e não intencional). Um produto tecnológico pode ser usado de má fé, o que não é raro de ser noticiado. Há quem use propositalmente para ferir e trazer prejuízos de todo tipo por meio de golpes usando smartphones, por exemplo. Todavia, também existem danos não intencionais, mas de nossa inteira culpa. Como exemplo, temos a exposição excessiva da nossa vida pessoal na internet. Podemos criar danos à nossa capacidade de aprender e memorizar devido à sobrecarga de estímulos (às vezes inúteis) das redes sociais. Novos desafios para as pessoas que sofrem de ansiedade, depressão e baixa autoestima apareceram neste mundo superconectado. E pra complicar mais, existe um monte de questões peculiares que as gerações passadas não entenderiam. Alguns exemplos: Sua hora de acordar e dormir depende do conteúdo seu smartphone? As redes sociais interferem no tempo que você passa no banheiro fazendo o número dois? Quais compras você fez cuja decisão foi independente da internet? Reflita.

  Discutir ciência e tecnologia amplamente é uma forma de superar o analfabetismo científico que está entranhado na nossa cultura e cotidiano. Este texto mal arranhou superficialmente o problema. Vários assuntos como inteligência artificial, robótica e internet das coisas ficaram de fora, mas são muito relevantes neste contexto de banalização tecnológica. Talvez sejam assuntos para outro texto. O que você acha? Se gostou, compartilhe.

  Davidson Viana é Doutor em Física e trabalha como Professor Adjunto V na Faculdade de Viçosa, onde leciona disciplinas da área de ciências exatas para vários cursos. Também trabalha com orientação de trabalhos interdisciplinares, organização de eventos acadêmicos e coordena os programas FIES e ProUni.



Data de Publicação: 20/07/2022
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