Cuidado: NÃO clique aqui

 

...se tiver mais o que fazer ou não gostar de ler - seria estranho acessar uma "Coluna do Professor" nesse caso. Mas, já que veio, fique mais um pouco, porque vai conhecer alguns mecanismos de influência social aplicados à comunicação que, eventualmente, podem lhe auxiliar; o que também servirá para entender como acabou parando nesta página. Vamos por partes:

1. Anúncios invasores - Claro que é sempre possível clicar sem querer, como ocorre ao sermos impactados por certos recursos de publicidade digital que, torçamos, ainda hão de cessar suas frenéticas e deselegantes aparições, sendo estas substituídas por anúncios mais convidativos e agradáveis. Mas não foi o que aconteceu aqui: era só o título de um texto. A ideia de interdição serve como instrumento de persuasão em muitas circunstâncias. Estudos realizados por Jack Brehm, desde a década de 1960, demonstraram que as pessoas ficam mentalmente vulneráveis a situações nas quais suas liberdades são confrontadas - o que justifica, entre outras coisas, o apreço pelo proibido. O que era para não ser clicado, acabou sendo.

2. Xi, cliquei - Quem sabe o clique que o trouxe até este texto tenha sido fruto de outro ato involuntário, ocasionado pelas limitações espaciais da tela do smartphone - cujas dimensões, é sabido, são causadoras de não raras curtidas indevidas e número equivalente de mal-entendidos. Aliás, já que se falou nisso, vale dar uma olhada no recente e mais abrangente estudo neurológico já feito sobre os efeitos dos "Likes" no cérebro humano. A pesquisa nos faz refletir sobre algumas implicações disso para a propaganda, a educação e outras áreas (dica: o próprio cientista ressalva que as redes sociais não são necessariamente negativas para a inteligência, como muita gente acredita).

3. Quem sabe não é legal - Se chegou até este parágrafo, de repente a leitura não foi tão chata assim, só um pouco. Não saia agora, porque a informação a seguir pode lhe ser útil; e, em sendo, quem sabe você não comenta com alguém? Essa propriedade do conteúdo intensifica sua capacidade de viralização, como mostra Jonah Berger em "Contágio: porque as coisas pegam" (dica: o livro não é sobre doenças, e sim a respeito das razões pelas quais as pessoas contam algo espontaneamente às outras, recomendando desde sites interessantes a produtos, serviços e empresas - e, claro, piadas e memes).

Mas nem era disso que eu ia tratar agora, e sim de como

4. algumas palavras podem ser mágicas - e nem falamos de "por favor", verdadeiro clássico eventualmente suprimido devido, quero crer, à desatenção. Estudos em psicologia social mostram que o uso de "porque" logo após a estruturação de um pedido aumenta muito as chances de que o mesmo seja atendido. Seres humanos, apontam os pesquisadores, são especialmente sensíveis a motivos para se empenharem em determinadas ações, como defendem Cialdini e Goldman num trabalho seminal. Outro estudo mostra que argumentos fundamentados na "moral" têm levado mais eleitores a serem persuadidos do que o apelo à tradição ou ao pragmatismo. Porém, vale observar, isso acontece lá nos EUA, na atual disputa entre Clinton e Trump.

A psicologia e a lingüística cognitiva são fantásticas por nos fornecerem elementos básicos para compreender a comunicação. Mas é na aplicação desses conhecimentos em outras áreas – como a Publicidade, a Educação, o Direito etc. – que tudo isso se concretiza e fica ainda mais interessante.

Se chegou até aqui, obrigado. Como professor e profissional da comunicação, fico satisfeito com a oportunidade de contar alguma coisa legal de vez em quando.

Marcel Angelo é professor do curso de Publicidade e Propaganda da FDV, doutor em Linguística pela Universidade Federal de Juiz de Fora e trabalha, também, na Comunicação Institucional da Universidade Federal de Viçosa.


Data de Publicação: 16/06/2016
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